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Assédio moral nas famílias

Mais situado nas relações de trabalho, o assédio moral é também presente nas relações familiares, embora existe muitos críticos sobre esta questão. Bom para lermos um trecho do livro abaixo:

A violência perversa entre casais

“A VIOLÊNCIA PERVERSA ENTRE CASAIS É MUITAS VEZES negada ou banalizada, reduzida a uma simples relação de domi­nação. Uma simplificação psicanalítica consiste em considerar o parceiro cúmplice ou até mesmo responsável pela relação per­versa. Isto é negar a dimensão do domínio que paralisa a vítima e a impede de defender-se, e mais, negar a violência dos ataques e a gravidade da repercussão psicológica da perseguição movida contra a vítima. As agressões são sutis, não há vestígios tangíveis, e as testemunhas tendem a interpretar como simples relações conflituais ou passionais entre duas pessoas de personalidade for­te o que, na verdade, é uma tentativa violenta de destruição moral ou até física do outro, não raro bem-sucedida.
Vou descrever inúmeros casais em diferentes estágios de evolução da violência perversa. A desigual extensão de meus relatos deve-se ao fato de que este processo se desenrola duran­te meses ou até anos, e que, à medida que a relação evolui, as vítimas aprendem, primeiro, a reconhecer o processo perverso; depois, a defender-se e a acumular as provas.

o enredamento

Entre casais, o movimento perverso instala-se quando o afe­tivo falha, ou então quando existe uma proximidade excessiva­mente grande com o objeto amado.
Excesso de proximidade pode dar medo e, exatamente por isso, o que vai ser objeto da maior violência é o que há de mais íntimo. Um indivíduo narcisista impõe seu domínio para con­trolar o outro, pois teme que, se o outro estiver demasiado pró­ximo, possa vir a invadi-lo. Trata-se, portanto, de mantê-lo em uma relação de dependência, ou mesmo de propriedade, para comprovar a própria onipotência. O parceiro, mergulhado na dúvida e na culpa, não consegue reagir.
A mensagem não-dita é: "Eu não te amo!", mas ela perma­nece oculta para que o outro não vá embora, e atua sobre ele de maneira indireta. O parceiro tem que continuar presente, para ser permanentemente frustrado; ao mesmo tempo, é preciso impedi-Io de pensar, para que ele não tome consciência do pro­cesso. Patricia Highsmith o descreveu em uma entrevista ao jor­nal Le Monde: "Acontece por vezes que as pessoas que mais nos atraem, ou pelas quais nos apaixonamos, agem com tanta eficá­cia quanto isoladores de borracha sobre a faísca da imaginação."
O enredamento é posto em ação por um indivíduo nar­cisista que quer paralisar seu parceiro, colocando-o em uma posição de indefinição e incerteza. Isto lhe permite escapar de envolver-se em um relacionamento de casal, que lhe dá medo. Com este processo, ele mantém o outro a distância, dentro de limites que não lhe parecem perigosos. Como ele não quer ser invadido pelo outro, ele o faz, assim, passar por aquilo que ele próprio não quer sofrer, abafando-o e mantendo-o "à sua dis­posição". Em um casal que funcione normalmente, deve haver um reforço narcísico recíproco, mesmo existindo elementos ocasionais de influência. Pode suceder que um procure "apagar" o outro, para ficar bem seguro de que mantém a posição domi­nante no casal. Mas um casal conduzido por um perverso nar­cisista constitui uma associação mortífera: o denegrimento, os ataques subterrâneos são sistemáticos.”
Paginas 21 e 22.
Hirigoyen, Marie-Frannce. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. Rio de janeiro. Bertrand Brasil, 2000

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